James Farris (James Farris: Professor no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião e na Faculdade de Teologia, Umesp.)
Resumo
Este artigo discute a identidade de John Wesley como teólogo prático, levando em consideração a identidade histórica da Teologia Prática e o contexto teológico presente na Inglaterra do décimo oitavo século. A abordagem teológica de Wesley está situada dentro do contexto deste período, a fim de localizar sua teologia no meio dos parâmetros da Teologia Moral, Popular e Pastoral, daquela época. Destaca-se a dificuldade de localizar a teologia de Wesley dentro das categorias teológicas vigentes no seu contexto histórico devido à sua preocupação com a integração da teoria e prática.
Introdução
Está relativamente claro que John Wesley não se considerava Teólogo Sistemático e as discussões atuais geralmente o localizam na categoria de Teólogo Prático. Porém, isso levanta duas perguntas importantes: 1) O que significa ser um Teólogo Prático e; 2) Como é que a teologia de John Wesley é Prática? Essas duas perguntas são importantes porque, em comparação com a Teologia Sistemática, a Teologia Prática é freqüentemente entendida como sendo menos acadêmica e mais orientado para a prática ministerial. Por conseguinte, a Teologia Prática não é levada tão seriamente quanto a teologia acadêmica formal, pelo menos em ambientes teológicos. Desta perspectiva, Wesley não seria considerado teólogo sério. Ele seria considerado pastor que também escreveu textos teológicos. Por isso, antes de nós considerarmos o que significa chamar John Wesley de Teólogo Prático, nós temos que entender o significado do termo Teologia Prática.
Contexto histórico da Teologia Prática
No Cristianismo Primitivo, a teologia era compreendida como a combinação entre entender e comunicar. A teologia, como conhecimento ou linguagem sobre Deus, era compreendida como uma cosmovisão interna que guiava a vida de crentes. Considerando que Deus não implantou este conhecimento no momento da conversão, ele teve que ser desenvolvido. Assim, a teologia combinou a teoria, conhecimento ou linguagem sobre Deus, com a comunicação, ou ensinamento, deste conteúdo. A teologia era a integração da reflexão sobre a antropologia, a soteriologia e a natureza de Deus. A teologia era essencialmente prática no sentido de buscar entender a natureza de Deus e a vida Cristã no mundo, mas em nenhum momento havia uma separação entre os dois. O ponto de partida da teologia era a revelação de Deus; todavia, isto era compreendido de diversas maneiras que incluíam o mistério da conversão e da vida nova.
Esta compreensão de teologia continuou relativamente inalterada, até a Idade Média, quando o local social da teologia deslocou-se das vidas dos crentes para as Universidades novas que emergiram de catedrais e monastérios. Essas Universidades novas adotaram modelos de teologia baseados no entender teórico de Aristóteles sobre a ciência como a geração racional de conhecimento e a convicção implícita de que tal conhecimento era freqüentemente independente de “preocupações práticas”. Esta mudança alterou o entendimento geral de teologia como prática.
Com a dominação daquilo que pode ser chamado o modelo científico nas Universidades, a teologia como ciência, ou teoria, começou a ser valorizada mais do que a teologia como prática, ou práxis. Isto motivou a produção de textos enciclopédicos, ou summae, para uso no contexto das Universidades, a transformação da prática para uma sub-categoria de teologia, a lógica como o valor central, a criação de sistemas teológicos e a separação de doutrina da vida da Igreja. Neste ambiente, a Teologia Prática tornou-se a Teologia Espiritual, ou Mística, e seu propósito era desenvolver a espiritualidade individual.
A Reforma Protestante tentou sarar a divisão entre Teologia Prática e Doutrinal, mas a Ortodoxia Protestante logo reafirmou esta separação. O resultado foi a criação de dois grupos distintos dentro da Igreja Protestante. A Ortodoxia Protestante entendia a fé Cristã como um grupo de afirmações intelectuais, enquanto o Pietismo rejeitava essa visão em favor de um modelo altamente individual da espiritualidade Cristã, que logo veio a ser entendido como a Teologia Prática, ou Espiritual. O efeito era separar a reflexão doutrinal da disciplina da vida cristã.
Durante os séculos seguintes, essa separação apareceu em uma variedade de formas, mas a Teologia Acadêmica, ou Sistemática, era claramente a autoridade reconhecida dentro das Universidades e na hierarquia da Igreja. Em diversos períodos históricos, a Teologia Prática era compreendida como: 1) A Teologia Moral, ou o estudo das ações morais e da vida devota; 2) A Teologia Popular, ou a simplificação de argumentos teológicos complexos para a educação da classe média e; 3) A Teologia Pastoral, ou a aplicação da Razão Prática de Kant que separou a teoria da prática e reforçou a Teologia Prática como tendo seu campo de ação no cuidado dos crentes baseado em doutrinas elaboradas pela Teologia Sistemática. Durante essa evolução, vários movimentos dentro do Pietismo tentaram pôr a prática da devoção no centro de teologia, mas estes esforços não tinham êxito. Em todo caso, definir a devoção como o fundamento da teologia, em vez da teoria, simplesmente colocaria a prática no centro da teologia e manteria a hegemonia de um modelo dualista.
Ao final do décimo nono século, Friedrich Schleiermacher reforçou ainda mais o dualismo entre a Teologia Teórica e Prática. Schleiermacher entendia a Teologia Prática como a Coroa da Teologia. Para Schleiermacher, a função da Teologia Prática era aplicar, ou colocar em prática, a Teologia Sistemática, Histórica e Bíblica. [1] Esse entendimento da Teologia Prática valorizou e, ao mesmo tempo, reforçou seu status teológico de aplicar e interpretar, mas não produzir, ou criar. Embora haja uma variedade de movimentos contemporâneos que desafiam o dualismo entre a teoria e a pratica na teologia, o foco dessa discussão está em John Wesley e na Teologia Prática. Por isso, não serão apresentadas as discussões atuais a respeito da natureza e da identidade da Teologia Prática.
John Wesley e a Teologia Prática
Levando em consideração a evolução da Teologia Prática, nós voltamos à pergunta central: John Wesley era Teólogo Prático e o que significa isso? A resposta depende do contexto histórico e significado do termo Teologia Prática. Na Inglaterra do décimo oitavo século, os escritores religiosos e teólogos geralmente dividiam a literatura religiosa em três tipos: 1) Doutrinal, a articulação e defesa de doutrinas específicas; 2) Controversa, a crítica das convicções e práticas de teologias de outros grupos, e; 3) Prática, ajudar pessoas a viverem a vida Cristã. [2] Os dois primeiros tipos, Doutrinal e Controverso, representam a teologia acadêmica de hoje. A literatura doutrinal defendia as crenças e os dogmas dessa, ou daquela Igreja. A literatura Controversa criticava outras idéias e crenças. A função da Literatura Prática era de ensinar a fé aos crentes e ajudar os membros da Igreja a viver em uma vida Cristã. Naquela época, quem escreveu nas primeiras duas áreas geralmente foram os professores e pastores eruditos. Quem escreveu a Literatura Prática foram os pastores, ou seja, comuns, ou pastores em igrejas médias e pequenas.
Os escritos de Wesley contêm os três tipos de literatura. Ele extrapolou as tradições formais e informais da academia e da Igreja. Ele recusou isolar a teoria da prática e muitos autores de hoje consideram sua Literatura Prática como a categoria definitiva de sua teologia. [3] Isso era muito incomum para alguém que passou uma temporada como Tutor na Universidade de Oxford e escreveu livros e artigos bem elaborados e respeitados sobre questões de doutrina e teologia.
Porém, a questão ainda permanece sobre que tipo de Teologia Prática dominava a abordagem de Wesley. Ele teve grande interesse pela Teologia Prática. Isso está claro na sua preocupação por treinar seus pregadores e pela educação de leigos, mas essa preocupação foi além de simplesmente treinar os pastores em técnicas pastorais, ou educar leigos na piedade cristã. Wesley buscava dar-lhes uma fundação sólida nas convicções básicas que apoiavam toda a ação cristã. Ele foi além do modelo tradicional de Teologia Prática de sua época, que prestava pouca atenção às questões teológicas e doutrinais. Para Wesley, não era suficiente apenas treinar pastores e leigos em como pregar, ou orar. Era de importância fundamental o entendimento de por que pregar, orar, ou teologizar. Qual é a base – na fé, na teologia, na Bíblia e na história da Igreja – para pensar e agir?
A Teologia Prática de Wesley pode ser considerada como Teologia Moral por causa de sua clara preocupação pelos problemas morais na sociedade e na vida das pessoas. Porém, no contexto de Wesley, a Teologia Moral claramente separava a teoria da prática. Pelo menos nas igrejas locais, era muito comum ensinar a Ética Cristã, ou como se comportar como cristão, citar alguns textos Bíblicos como apoio e não avançar mais a discussão. Mas Wesley era muito intencional em conectar as perguntas doutrinais com os problemas éticos e os textos Bíblicos. A doutrina, a teoria, não podia ser separada da ética, da prática.
A categoria de Teologia Prática que provavelmente melhor descreve a teologia de John Wesley é a Teologia Popular. Este era um movimento teológico muito forte na Inglaterra durante o tempo de Wesley. Segundo Albert Outler, o gênio da teologia e prática pastoral de Wesley era sua habilidade de traduzir, sintetizar e comunicar as discussões teológicas complexas em linguagem acessível aos leigos. [4] Neste sentido, a Teologia Prática de Wesley era nitidamente Teologia Popular. Porém, Wesley foi além desse modelo teológico de duas maneiras. Primeiro, ele não estava interessado em apenas comunicar “desenvolvimentos interessantes” no campo da teologia para a classe-média. [5] Ele era firme em sua convicção de ensinar aos pobres as verdades fundamentais da fé cristã. Segundo, ele não meramente traduziu, sintetizou e comunicou as idéias e teorias teológicas desenvolvidas por outros. Wesley debateu, discutiu, clarificou, reformulou, desafiou e produziu teologia. [6] Por essa razão, ele foi além do modelo da Teologia Popular presente na Inglaterra do décimo oitavo século. [7]
Isso nos deixa com uma pergunta. Se a Teologia Prática de Wesley não era apenas Teologia Pastoral, Moral, ou Popular, o que era? Randy Maddox sugere que embora a Teologia Prática de Wesley contenha elementos de todas as tendências teológicas dominantes do seu contexto, ele foi além desses modelos para produzir teologia baseada “…no modelo cristão primitivo de teologia como um empenho prático”. [8] Wesley não separou a doutrina da ética. Suas éticas são baseadas na sua teologia da graça. [9] Sua defesa das necessidades dos pobres é baseada na sua confiança no poder transformador de Deus. [10] Seu entendimento da santidade cristã inclui a ética, a ação correta, e a doutrina, o entendimento correto. [11]
A teologia de Wesley é prática no sentido de buscar entender igualmente a natureza de Deus e a vida cristã no mundo, sem criar uma separação artificial entre os dois. O ponto de partida da sua teologia é claramente a revelação de Deus, mas Wesley defende a importância de entender esta revelação, a doutrina, e vivê-la, a prática. Os dois não podem ser separados. Por conseguinte, sua teologia revela uma metodologia baseada na relação dinâmica entre a teoria e a prática, a práxis, raramente presente nas Teologias Práticas do décimo oitavo século. Uma das grandes contribuições da Teologia Prática de Wesley é que ela provê uma base para repensar a identidade da Teologia Prática e toda a teologia atual. Outra grande contribuição da Teologia Prática de Wesley é destacar a idéia de que o que, o como e o por que são inseparáveis.
Considerações Finais
A fim de não transformar Wesley num herói, é fundamental entender que, em termos da Teologia Prática, pelo menos como entendida hoje, sua teologia tem seus limites. O ambiente definitivo de Wesley era a Igreja. A Teologia Prática, como entendida hoje, está baseada num diálogo entre a teologia e a cultura. Isso significa que, na Teologia Prática de hoje, os desafios e as respostas presentes nas fontes de autoridades teológicas entrem num diálogo crítico com os desafios e as respostas presentes nas fontes de autoridade culturais. Esse diálogo está quase ausente no pensamento de Wesley. Para ele, a Igreja oferecia as respostas definitivas para os desafios e as respostas presentes na cultura. Apesar do fato de que, para Wesley, a Ação Social era uma expressão fundamental da fé cristã, a idéia de um diálogo entre a autoridade da Revelação de Deus e a autoridade da cultura era quase inimaginável. Ele entendeu a Igreja, ou a revelação de Deus, como a resposta aos desafios experimentados pela cultura. Hoje, existem outras visões, ou outras interpretações da dinâmica entre a Igreja e a Cultura. [12] Mas, a recusa de Wesley em isolar a Igreja do mundo, ou das necessidades do povo, e integrar a teologia com a prática, continuam a ser fundamentais para qualquer discussão teológica.
Realmente teologia e a prática tem que anda junto .porque uma pessoa necessitada carente. Eu tenho que fala para ela de Deus com a ajuda da teologia. Explicando a bíblia o quanto Deus a ama o quanto ela é importante. Mais e necessário também supri as suas necessidades como fome dando o que comer .frio dando blusa etc .então as duas coisas tem que anda juntas